Sou Esquerdista Sim Senhor!

        Como é que nascido, criado e vivido nas condições que vivi, ser um sujeito contrário a tudo àquilo que vivenciei, sofri e passei nesta vida?

— Negar minha condição de formação humana e social?

— Jamais!

— Não poderia dentro das cruezas que vivi, senti na pele e sedimentou o meu ser, agir ou pensar de forma diferente, porque seria a negação de tudo que lastrou toda a minha vida e formação humana.

         Por isso mesmo é que, se esquerdista, comunista, extremista radical em minhas ideias e visão de mundo assim for considerado, podem me tachar do que quiseram que me sinto orgulhoso, porque se o humanismo for sinônimo de tudo isto, estão certos quem a mim se referir dessa forma.

         As dificuldades que vivi desde o nascimento com vida, e a partir do momento que passei a me entender de gente, na minha própria terra, na migração forçada como bode embarcado na condição de pau-de-arara nordestino para São Paulo, não poderia residir dentro de minha alma, ideal diverso do que imagino e penso. Tem mais: forjado na luta, desde cedo aprendi a trabalhar e até mesmo a ditatura militar, tive que enfrentar, quando pessoas não tinham a devida liberdade de se expressarem livremente ou de irem e virem, além dos desaparecimentos inexplicáveis que até os dias atuais famílias não sabem sequer do paradeiro de seus mortos. Então diferente jamais poderia ser!

         Fui lavrador na roça puxando cobra para os pés; na enxada da Selva de Pedra, trabalhei de servente de pedreiro e de ajudante geral. Fui entre tantos, só mais um reles peão nordestinado da sorte. Foi duro, mas não capitulei. Estudei, me graduei, fiz pós-graduação, nem por isso posso me considero um burguês, porque nunca fiz parte dessa casta social, por isso mesmo muito me orgulha ser um idoso, nem tanto pela idade, porque a velhice é mãe de muitas mazelas da vida, mas por não mudar minha forma filosófica de pensar, porque os pensamentos fincados e cimentados na estrutura de cada ser humano, nunca podem desmoronar, principalmente para os fortes. Quanto aos fracos, aí é outra história!

         Por isso mesmo minha gente, como me achar num lado de direita reacionária, que só pensa em dinheiro, lucros, bens patrimoniais e nada de humanismo! – Quem foi forjado na luta pelo árduo trabalho e fez suas conquistas duramente numa guerra, não pode jamais retroceder e esquecer num flash de luz tudo que na vida foi e vivenciou, principalmente na fase madura da vida. Só se a gente chegar a perder a memória, porque de sã consciência, ninguém muda ou nega o que sempre foi na vida. Por isso mesmo muita me orgulha ser mais um proletário a bradar e levantar a bandeira dos mais fracos e oprimidos do mundo, porque foi assim que vivi e aprendi no decurso do meu caminho.

         Não estou mais para receber lições de ninguém, seja lá de quem for, mas sim, para dar as tantas lições que nesta vida tanto aprendi, mesmo que não tenha chegado a ter todo o conhecimento que gostaria de ter alcançado. Então podem me chamar de esquerdista, de comunista, de extremista que tenho muito orgulho de ser isso, porque o que a gente é na vida, não pode ser mudado.

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Manoel Modesto

Advogado, escritor, poeta e presidente da ABLA (Academia Buiquense de Letras e de Artes)

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