Prefeita Ostentação

           Por um acaso nesses dias de quarentena, dando uma olhada pelo o YouTube, cheguei a assisti uma reportagem do Conexão Repórter, apresentado pelo jornalista Roberto Cabrini, em que no seu trabalho tem feito grandes reportagens de entrevistas com várias pessoas que de repente, se veem envolvidas em situações as mais inimagináveis possíveis, mas quando não tem a devida consciência daquilo que fez ou talvez conscientemente mesmo do comportamento humano que determinadas pessoas chegam a abraçar e a praticar, aí não há mais o que se fazer, senão pagar pelo mal feito, mesmo que tenha realmente pecado ou não, porque existem nós que se dão na vida, que dificilmente serão desatados.

        À bem da verdade, as pessoas podem ou não se envolverem no que não devem, chegarem a usufruir e do proveito que estão tirando e outras, chegam mesmo a ser usadas como bodes expiatórios em determinadas circunstâncias que a vida chega a colocar alguém, porém quando a vaca vai pro brejo, a coisa está feita, pronta e acabada e, quando a pessoa vem a se dar conta, aí já chegou a entrar mesmo numa roubada e tem que pagar querendo ou não, pelo que supostamente chegou a cometer.

         Foi numa dessas ocasiões, envolto no meu isolacionismo social meio que voluntário, porém é obrigação de cada ser humano cuidar de sua própria encurtada vida, porque senão, o buraco é logo ali um palmo adiante, porque nada está para brincadeiras. Pois bem, foi justamente numa noite dessas, deitado no meu já surrado sofá, que cheguei a assisti ao Conexão Repórter, de Roberto Cabrini, não vou citar o veículo de comunicação porque não merece, mas assisti pelo YouTube, em que ele chegou a entrevistar o que os meios midiáticos destrutivos de vidas, corpos e almas, olvidaram por tratar a ex-prefeita de Bom Jardim, Lidiane Leite, uma cidadela que fica à 300 km de São Luiz, no Maranhão, com uma população em torno de 40 mil habitantes, em que por um acaso ela veio a se tornar prefeita com pouco mais de vinte anos de idade. A “bichinha” era bela, loira, porém burrinha e entrou de gaita no navio e por isso mesmo, está pagando por tudo que fez ou deixou de fazer, porque não passava de uma laranja mimada.

         Na verdade trata-se de uma jovem mulher bonita, em que veio a se casar com um político e rico, fazendeiro paraibano, mas que se estabeleceu lá na cidade de Bom Jardim, do Maranhão e, tendo sido candidato a prefeito em 2008, ficou em segundo lugar. Não desistiu de continuar tentando, por isso mesmo em 2012, se candidata novamente, só que, por se encontrar inelegível pela Justiça Eleitoral daquela cidade, certamente por alguma razão impeditiva, teve a candidatura impugnada, e de última hora, dentro de 72 horas, apresentou a jovem esposa com quem já era casado, a qual chegou a vencer o pleito em que obteve quase dez mil votos e mais de 50% dos votos válidos do município. Sem sabe e sem querer, se elegeu prefeita de seu município, o lugar que a viu nascer, crescer, como uma menina de classe bem de vida.

         Em casos como esse, o que não é nenhuma novidade na Justiça Eleitoral brasileira, por não se poder mudar mais a foto, o eleitor votou na candidata, porém na urna, o que aparecia era a foto do candidato inelegível, quer dizer: imaginando votar no candidato Beto Rocha, seu marido, na verdade estava votando nela, Lidiane Leite, que depois de eleita, passou a ter uma vida em que buscava sempre aparecer bem vestida, maquiada, posando para selfies com celular nas redes sociais, e por isso, foi denominada pela mídia, depois que caiu na impiedosa imprensa por ter sido acusada de corrupção e do desvio de 20 milhões de reais dos recursos públicos, entre outros crimes e de ter sido condenada a 14 anos de reclusão, o que na verdade, por ter dois filhos menores está tirando a pena na casa de sua mãe, foi que ela veio a aparecer tanto na imprensa nacional quanto mundial e aí com toda essa carga em cima de si, o mundo desmoronou em cima dela e pior, é que diz inocente, porque na realidade ela era prefeita de direito, só para assinar e tomar medidas prontas, quando de fato, quem de verdade mandava era o seu marido, que com mais idade do que ela, certamente o casamento foi um jogo de interesses e terminou por ser condenada por prática de corrupção, quando na realidade pelo que se pode notar de verdade, ela não passou de mais uma laranja, como tantos ou tantas laranjas que a gente sabe que existem cumprindo mandatos eletivos, quando na realidade só faz mesmo assinar os pepinos a mando de outrem que é o mentor e feitor de tudo que acontece em muitos municípios.

         Ela nessa condição, eleita prefeita, mesmo tendo registrado o seu nome de última hora, para tapar o buraco de seu marido inelegível, na verdade, quem votou na chapa, votou mesmo no marido e ela, do ponto de vista do direito, foi eleita prefeita, porém na realidade, quem mandou de verdade a partir de 01 de janeiro de 2013, quem deu as cartas por mais de dois anos até ela vir a ser cassada, condenada e presa pela Justiça, quem usufrui de verdade foi o seu marido e pelo que se percebeu, sequer ela dava expediente na prefeitura. Não resta a menor dúvida que ela ficou deslumbrada, porém passou a não se dar com o marido, certamente porque questionava algumas maracutaias, mas não tomou nenhuma iniciativa e continuava a assinar licitações fraudulentas de obras superfaturadas, a cidade em condições precaríssimas de vida, a pobreza extrema tomando conta do povo e por isso mesmo, não haveria outra destinação, a não ser a sua cassação e condenação pelos crimes de corrupção, dentre outros, pelos quais fora acusada. Em Pernambuco cheguei a ver isso em Lagoa dos Gatos. Era desse jeito. A mulher era a prefeita, porém quem mandava era o marido.

         Essa questão de alguém por qualquer ligação que venha a ter com algum político e assume o seu lugar por algum impedimento, vem a se eleger, jamais vai ter moral alguma para exercitar o mandato em toda a sua plenitude e esse filme já vi muito por aqui mesmo em nossa região, em algumas cidades bem próximas da nossa. Em Alagoinha mesmo, um determinado mandante político ocasional e ex-prefeito, em tempo pretérito, elegeu o irmão da mulher, porém quem mandava no município era o cunhado. A questão era a de que, sendo impedido de concorrer a reeleição, emplacou o laranja, que na verdade não mandava em absolutamente nada. De um simples servidor da EMATER-PE, veio a se tornar prefeito de Alagoinha, mas nunca passou de um mero “laranja”.

         Só para refrescar a memória do povo buiquense, digo e repito com toda a convicção, de que, em 1962, quando Blésman Modesto se elegeu prefeito de Buíque, com apenas 22 anos de idade, um pouco mais do que a idade dessa prefeita de Bom Jardim, no Maranhão, ao assumir, seus apoiadores, não lhes deram trégua da mesma forma. Querendo que ele seguisse a cartilha deles, mas como ele tinha planos diferentes, não deu noutra, foi cassado pela Câmara Municipal, a qual era presidida por quem chegou a sucedê-lo e além disso, foi cassado na época da ditadura militar, por cerca de dez anos, sem poder se candidatar a absolutamente nada, nem mesmo a inspetor de quarteirão!

         Então minha gente, não precisa ir muito longe para se imaginar que a situação dessa prefeita de Bom Jardim, lá do Maranhão, pode ser um caso semelhante, em que se deslumbrou com o cargo que só tinha por direito, porque de fato quem mandava era o seu marido e por isso mesmo, a roubalheira imputada a ela, na realidade quem roubou de verdade foram outras pessoas, mas como ela era a ordenadora, por direito, de despesas, era a “dona” da caneta, foi quem pagou, entrou numa enroscara dos diachos que dificilmente será inocentada, como querem seus advogados, porque a essa altura do campeonato, legitimada como prefeito eleita, mesmo na condição de laranja, quem vai realmente pagar pelo que fez ou não fez, vai ser ela mesma, porque é assim que sempre acontece neste Brasil. De laranjais até os mais altos escalões de poder, está enxovalhado de laranjas podres, esta é a realidade, doa em que doer.

         É lamentável que a Justiça julgue por esse caminho, em que, quem não fez, tem que pagar por quem realmente foi o verdadeiro responsável, isto porque, a pessoa acusada, mesmo se dizendo e jurando inocência, a caneta que usou para assinar documentos e ordenar despesas, mesmo que não tenha destas usufruído em sua totalidade, é quem impiedosamente vai pagar tanto pelos erros que não fez, quando por aqueles que certamente, em menor grau, chegou a cometer, esta é uma verdade inarredável que não poderá ser mudada de forma alguma, porque a Justiça nem sempre faz a verdadeira justiça.

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Manoel Modesto

Advogado, escritor, poeta e presidente da ABLA (Academia Buiquense de Letras e de Artes)

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