Terra Plana de Olavo de Carvalho

O autodidata filósofo, astrólogo, jornalista e pesquisador festejado pela extrema-direita, Olavo de Carvalho, que antes de Bolsonaro jamais houvera ouvido falar em seu nome e sua obra, tem como centro de idealismo tresloucado, de que a Terra é plana, o coletivismo é uma ditadura para idiotas e vê o mundo dominado por comunistas. Parece coisa de menino buchudo, mas o pior é que tem milhares de adeptos ferrenhos de suas teorias reversas sobre a origem de tudo à nossa volta.

Na verdade para a gente conhecer melhor alguém, tem que ler alguma coisa sobre essa pessoa, assistir algum documentário, um filme, como assisti ao documentário da Amazon, Jardim dos Aflitos e pude perceber parte do que o sujeito pensa, morando na Virgínia, nos Estados Unidos, em que expõe parte de seu pensamento e de uma visão de mundo extremamente conservadora em que busca primar única e exclusivamente pelo individualismo em detrimento do bem coletivo, comum, de interesse de todos e vê o assombro do comunismo em tudo quanto é lugar. Também não é para menos, declarado apaixonado por Donaldo Trump e crítico ferrenho de Barack Obama, não poderia a mãe dele ter parido coisa pior. Isso é algo de intelectual louco mesmo!

Pude perceber também, que quem discorda dele, não tem contemplação alguma, é tratado estúpida, grosseira e com extremada falta de educação, para quem se diz um filósofo que pretende ser reconhecido indefinidamente pela posteridade, a exemplo do filósofo grego Aristóteles. Coisa de gente doida mesma. Percebi no filme-documentário em que foi dirigido e produzido por todos os familiares dele mesmo, consoante se pode perceber nos letreiros verticais rolando no final do filme, que na verdade onde ele vive trata-se de uma casa bem aconchegante para os padrões americanos, com uma grande biblioteca em que ele mostra coletâneas de livros de Karl Marx, Engels, Lênin, afirmando ele que “duvidava que os comunistas” tenham lido tudo aquilo e ufanando-se de que ele tinha lido todas àquelas obras, apesar de discordar de todas elas, o que não pode ser verdadeira tal afirmativa. À bem da verdade só quis mesmo demonstrar o seu ego de autodidata “intelectual” e de que detinha uma vasta biblioteca composta por vários autores de todas as partes do mundo. Se quis demonstrar que onde estava vivendo seria o comparável ao que ele intitulou de Jardim dos Aflitos, na verdade em nada se pareceu com o título de seu livro, pela pomposidade demonstrada em uma morada numa propriedade bem cuidada e bem cômoda para uma família de classe média-alta viver

Outra ideia estapafúrdia desse “filósofo” é de que a terra é plana, como imaginam alguns denominados “terraplanistas”, que acreditam que a terra é sustentada por uma força gravitacional puxando-a para cima, o que contraria todas as teorias e comprovações científicas até agora estudadas ao longos dos tempos, a exemplo de Aristóteles, 350 a.C, de um físico americano Steven Winberg, que ao observar um barco navegando com destino ao horizonte, viria a desaparecer depois de percorrer determinado espaço, daí sua conclusão pela esfericidade da Terra.

A filosofia grega também, mesmo através de observações rudimentares da natureza chegaram a essa conclusão, a exemplo de Erastóstenes (276 a.C – 194 a.C), chegou a medir a circunferência da Terra, tudo isso empiricamente ao observar o universo que nos envolvia. Além desses grandes sábios da antiguidade grega, outros grandes cientistas chegaram a mesma conclusão da esfericidade da Terra, como o polonês Nicolau Copérnico (1476-1543), o italiano Galileu Galilei (1564-1642), o inglês Isaac Newton (1643-1727), entre tanto outros renomados cientistas que chegaram a essa mesma conclusão e cada vez mais com precisão e comprovações científicas e exemplo maior é a Terra vista do espaço pelos astronautas. Então em que se baseiam esse tresloucado pessoal em dizer que a Terra é plana?

Um conhecido meu, quando foi à Brasília numa determinada vez em sua vida, ao de lá volta, para contar vantagens, costuma dizer que adorava a capital federal porque era uma “cidade prana” e tinha muito “crube luxento”. Bem, talvez esse pessoal esteja no mesmo nível de conhecimento dessa pessoa que citei, só para exemplificar o que o desconhecimento pode atropelar as pessoas até pelas palavras que profere.

Pode-se argumentar que, do ponto de vista prático, para a maior parte das pessoas, a questão sobre a forma da Terra é irrelevante. À vem da verdade o que mais importa é a nossa vida, porém desta se deve ter o devido conhecimento de como tudo à nossa volta funciona, para podermos chegar a compreender a vida e o viver em sociedade.

O fato na verdade é o de que esse argumento, não tem base lógica e científica para se sustentar, quando entendemos que não é apenas uma questão sobre a forma do nosso planeta, mas sobre nossa crença e confiança em um sistema lógico e coerente capaz de explicar o mundo: a ciência e isso vários estudiosos dedicaram toda uma vida só para chegar as suas conclusões dentro de uma precisa logicidade.

No momento em que conhecimentos consolidados como a esfericidade da Terra passam a ser questionados de maneira simplória, abrem-se as portas para um mundo ilógico, onde toda sorte de ideia pseudocientífica tem lugar. Perde-se a crença na eficácia das vacinas, na utilidade da energia nuclear, na ecologia planetária, para citar alguns de seus perigos. Procurar entender o formato de nosso planeta é procurar entender o mundo. E esse é o método mais eficiente que conhecemos para melhorá-lo.

Mas, como uma boa história merece terminar com uma boa frase, aqui vai uma sugestão. Se alguém propuser ao (à) leitor(a) que a Terra é plana, a resposta a ser dada é muito simples: “você está redondamente enganado!”. E aproveita para indicar a leitura desta matéria.

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Manoel Modesto

Advogado, escritor, poeta e presidente da ABLA (Academia Buiquense de Letras e de Artes)

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