Advocacia trabalhista, uma categoria em extinção?

Advocacia trabalhista

Atuei muito na área de Direito do Trabalho, sobretudo quando morei em Pesqueira em torno de dez anos, entre as décadas de oitenta e por mais da metade da de noventa. Inicialmente fui transferido da agência do Bandepe de Buíque para trabalhar naquela cidade, por perseguição política, e foi de lá que estudei direito em Caruaru, na FADICA e, já formado desde 1990, quando demitido do banco em 1991, passei a atuar como profissional liberal, o que foi para mim a salvação da lavoura para manter a minha família.

Sendo Pesqueira a sede da Justiça Trabalhista de toda essa região, apesar do lobismo ferrenho de alguns donos do pedaço na seara do direito do trabalho, mesmo assim consegui conquistar o meu espaço e defendi muitas causas trabalhistas naquela Justiça Especializada, inclusive muitas pessoas de Buíque, Arcoverde, Poção, Alagoinha, Venturosa, de Pesqueira também, sempre me procuravam para defender os seus direitos laborais naquele segmento do direito e cheguei e me tornar numa espécie de “expert” em direito trabalhista e deu para garantir o meu sustento e de minha família, porém nunca deixei de atuar em todos os ramos do direito, como se fora um clínico geral nessa área de ciências humanas e sociais.

O que tenho observado nos dias de hoje, com o aumento da concorrência na profissão de advogado, é a dificuldade com a qual se tem deparado para sobreviver única e exclusivamente da profissão, porém os que adquirem capacidade, competência e tem conhecimento de causa daquilo que se propuseram a fazer com honradez, dignidade e retidão de caráter, ainda podem ser que tenham condições de sobreviver. Quanto aos demais, se acaso se focaram em concursos públicos, ainda podem conseguir uma boa colocação em algum segmento público e ganhar o suficiente para se sustentarem nesta vida; aos restantes, terão eles que aprenderem a fazer petição de miséria, porque não tem a menor condição de fazê-lo em juízo. Esta é uma realidade palpável e risível com a incompetência e falta de ética na conduta de muitos profissionais dessa área das ciências jurídicas, além de um Judiciário desmoralizado.

Na questão da Justiça do Trabalho, que foi criada na década de quarenta por Getúlio Vargas, para se tornar simpática à causa dos trabalhadores, pelo que se vem percebendo, que ninguém é tolo ou besta, a intenção empresarial e da classe rica, é a de extinguir de uma vez por todas a Justiça do Trabalho, e o seu enfraquecimento já pode se sentir, com a reforma trabalhista promovida ainda no governo golpista de Michel Temmer, que cortou pela raiz diversos direitos trabalhistas a pretexto de se dar mais empregos para a população de desempregados, só que, mais uma vez o tiro saiu pela culatra, porém o que se viu mesmo foi o seu esvaziamento e consequentemente, as causas trabalhistas, vieram a diminuir drasticamente e como não poderia deixar de ser, a procura por advogados trabalhistas, mesmo àqueles que vivem do lobismo na área, que já estão reclamando que o movimento caiu demasiadamente, como se tem notícia da própria Vara do Trabalho de Pesqueira, o que demonstra nitidamente um presságio com esse desmonte, da extinção por via oblíqua, da própria Justiça do Trabalho, porque se não existirem mais causas trabalhista, como subsistir uma instituição para cuidar de um ramificação de um direito, que está sendo liquidada em fatias pelos atuais donos do poder ocasional?

Ora, para nós que somos advogados, a coisa já não está muito boa, isto porque a cada dia saem milhares de bacharéis dos bancos acadêmicos, apesar de poucos passarem na prova da OAB, o que não é demérito para ninguém, porém como as demandas judiciais estão diminuindo, como é que o advogado vai sobreviver? – Claro que o mundo avançou e por isso mesmo, cada profissional tem que buscar se adequar ao que há de mais moderno e atualizado, porém mesmo assim, o mercado de trabalho para o advogado não tem sido nada alvissareiro ou fácil, sobretudo no segmento do Direito do Trabalho, que com a tendência de se extinguir de uma vez por todas, porque os atuais donos do pedaço querem a volta do trabalho escravo, em que se propõe acabar com uma diversidade de vantagens trabalhistas.

Quem lembra da SUDENE, que seria a redenção do Nordeste, imaginada pelo economista Celso Furtado e que deu no que deu e nada resolveu, a não ser um instrumento dos potentados e políticos picaretas de plantão, por isso mesmo não deu certo. Então do mesmo jeito, o começo do desmonte da Justiça do Trabalho pelo golpista Michel Temmer, vai terminar na extinção dessa justiça especializada e o trabalhador é quem lá na ponta das desgraceiras, é quem vai mais uma vez pagar o pato. Com isso advogados trabalhistas, sobretudo os lobistas, podem de logo irem arrumando outra lavagem de roupa, que a coisa é mesma preta, sem ofensas aos bons advogados que sempre combateram o bom combate.

Compartilhar:

Manoel Modesto

Advogado, escritor, poeta e presidente da ABLA (Academia Buiquense de Letras e de Artes)

Conteúdo sugerido...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.